Ainda hoje...., Tijucas chora a sua Marinha Mercante

Por Clélia Carvalho Bayer (1933-2008)






















Fotografia retirada do álbum no picassa: https://picasaweb.google.com/112716481097323613114/11JoaoHenriqueBayer#5440765271232398994
Como não é possível falar ou escrever sobre o passado de Tijucas, sem lembrar a mais bela e importante passagem de nossa história, a M.M.T. e, para que a nova geração não a ignore, volto ao assunto: pela carência de boas estradas para transportar os nossos produtos (muitos cereais e madeira), em 1901, os coronéis Benjamim Gallotti e João Bayer passaram a adquirir barcos. Foi o início da Marinha Mercante de Tijucas, navegação veleira, cuja capacidade dos barcos variava entre 30 e 600 toneladas e, o "Elizabeth", também de três mastros, para 450 toneladas, de propriedade de João Bayer.
Em pouco tempo..., outros também passaram a possuir barcos. Daí a criação dos nossos 21 pequenos portos e estaleiros ao longo da Beira-Rio e que se estendiam desde a ponte metálica General Bulcão Vianna, até quase a Beira-Mar Norte.
Isto fez com que o primeiro centro desta cidade, o tradicional bairro da "Praça" - berço da grande maioria de nossos heróis marinheiros e, o maior e mais bonito dos bairros - ficasse um tanto descentralizado, pois o maior comércio passou a ser o marítimo.

Conforme consta no "Livro de Entrada e Saída dos Navios Veleiros tijuquenses", ainda bem legível, nas décadas de 20 e 30, quando esta marinha se encontrava no auge, chegou a possuir (entre grandes e pequenos) uma frota de aproximadamente 100 veleiros. 


Foto do Livro de Entrada e Saída dos Veleiros. 1935. Acervo: Edson Bayer

E, quer em terra ou em mar, durante muitos anos gerou empregos para centenas de tijuquenses, chegando a passar de pai para filhos e netos, pois esta navegação veleira, sobreviveu quase meio século - 1901 a 1949.


Foto do Livro de Entrada e Saída dos Veleiros. 1935. Acervo: Edson Bayer

Embora não muito, mas..., em busca de cereais e madeira, navios veleiros de outras plagas também atracaram - por diversas vezes - em alguns dos nossos 21 portos, como o imponente "Brás Cubas" de Santos/SP, e outros conforme está registrado no livro, e é bem lembrado ainda pelos mais idosos.


Foto do Livro de Entrada e Saída dos Veleiros. 1935. Acervo: Edson Bayer

Tanto os veleiros tijuquenses, como os de outras plagas, cujo calado era acima de 300 toneladas, não ultrapassavam a nossa foz, portanto ancoravam em ganchos, hoje Gov. Celso Ramos, para serem carregados ou vice-versa pelos veleiros menores que, tanta vida davam também à nossa baía.
A rota constante desses nossos navios veleiros era Tijucas - Rio de Janeiro, com escalas em São Francisco, Paranaguá e Santos/SP, levando muitos cereais e madeira. 

De acordo, esses veleiros traziam muito sal de Cabo Frio e, muitas mercadorias importadas e que o Brasil ainda não produzia: vinhos, azeites e perfumes; cristais, porcelanas, prataria e luminárias, sedas, cetins, linhos, rendas, veludos, etc. Por isso, ainda hoje, o tijuquense sabe o que é bom.
Segundo o Senhor Sálvio Narciso, hoje octogenário, residente em Florianópolis, ex-guardalivros da Bayer Navegação, esses nossos veleiros também faziam fretes do Rio de Janeiro para São Luiz do Maranhão, portanto, percorriam grande parte da costa

Com o assoreamento acelerado da nossa foz, a construção de novas estradas e a chegada de muitos caminhões, esses barcos foram vendidos para outras regiões; inclusive alguns passaram a ser motorizados, como no caso do imponente "Joanna", de João Bayer, que virou barco de recreio no Rio de Janeiro.

Rio Tijucas, década de 20/30 aproximadamente. Imagem retirada do álbum no picassa: https://picasaweb.google.com/112716481097323613114/11JoaoHenriqueBayer#5445662403935121058

E foi assim que, no longínquo 10 de outubro de 1949, os três últimos destes encantadores navios veleiros, ainda com a tripulação uniformizada e sob o eco dos seus sinos, levantaram âncora e, de velas desfraldadas, partiram de mar afora para não mais voltar, deixando para trás (e sem vida) os nossos 21 portos, estaleiros e... uma grande saudade!

Retirado do livro: BAYER, Marcos; GOMES, Luiz (Organizadores). Muitas histórias de Tijucas. Florianópolis: Insular, 2000. p. 244-245.


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